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Vasco da Gama, Fernão de Magalhães e Stefan Zweig

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Partiu de Lisboa – mais concretamente do "Restelo" – em 8 de Julho de 1497 a frota comandada pelo navegador Vasco da Gama com o objectivo de descobrir o caminho marítimo para a Índia passando pelo Cabo da Boa Esperança. Conseguiu-o uma vez que chegou a Calecute, importante cidade e entreposto comercial na costa ocidental da Índia em 17 – ou no dia 18 – de Maio de 1498. Demonstrou, assim, existir uma ligação marítima directa entre a Europa e a Ásia. Ora, tal aventura marítima foi o primeiro "passo" para a implantação do "Império Português do Oriente". Que apenas cessaria formalmente quinhentos anos depois: em 20 de Dezembro de 1999 com a administração política de Macau a ser a oficialmente assumida pela República Popular da China. Aproveito, de facto, o estar a recordar Vasco da Gama e o seu feito para lembrar também que foi já há alguns anos que um navio designado "Vasco da Gama" (construído, por sinal, em instalações pertencentes ao estal

François Rabelais

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Também o lisboeta Teatro São Luiz estreia este mês a peça "O Livro de Pantagruel". Ora, desconheço completamente do que trata (por assim dizer) esta apresentação. O que sei, no entanto, é que um dos livros que foi publicado em 2022 foi "Tout Rabelais" (como não quero imiscuir-me no trabalho de outros, limito-me a enunciar o título original). Com efeito, "Tout Rabelais" mais não é do que uma espécie de viagem literária, através de uma escrita romanceada, pela vida humanista e livre do autor de "Gargantua et Pantagruel". Refiro-me, de facto, a François Rabelais. Efectivamente, Rabelais – que nasceu em França em 1494 e aí morreu em 1553 – foi, como atrás lembrei, um humanista: tendo chegado a corresponder-se com Erasmo de Roterdão, exerceu medicina, foi padre, editou obras de cariz científico e escreveu poesia e ficção. Precisamente, através das palavras, criticou a sociedade do "seu tempo" – denunciando a hipocrisia que,

A comédia, o auto e a floresta

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O Teatro Romano do Museu de Lisboa leva este mês à cena o texto escrito pelo autor romano Plauto (que viveu entre os anos 254 antes da data geralmente atribuída ao nascimento de Jesus Cristo e 184 antes da mesma data)* "A Comédia dos Burros". Que foi uma crítica a alguns valores existentes na sociedade de então. Ora, centenas de anos depois, foi Gil Vicente – por muitos considerado como o "pai" do teatro em Portugal – a censurar a sociedade do país: desde logo com o "Auto da Índia" e depois com a "Floresta de Enganos". Com efeito, o "Auto da Índia", tendo sido uma das primeiras farsas de Gil Vicente foi, justamente, também uma das primeiras obras representadas em toda a Península Ibérica a apresentar um enredo composto por diversas personagens ao contrário de um simples monólogo como era, de resto, habitual apresentar-se em contexto real. O "Auto da Índia" teve a sua primeira representação no início do século XVI (em 1509

O rei D. João III e a Cultura

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No volume III da "História de Portugal" coordenada por José Mattoso escreveu o historiador e docente universitário António Rosa Mendes o seguinte: "É inquestionável que sob D. João III ganhou vulto um fenómeno de "investimento na cultura" que, tanto quantitativa quanto qualitativamente, não teve precedentes na nossa história. A modernização do aparelho cultural respondia, aliás, e a um tempo, a solicitações que se prendiam com a necessidade de acertar o passo pelo da Europa evoluída e com as exigências do processo de concentração, racionalização e secularização do Poder - portanto, da própria construção do Estado moderno". Ora, confesso que não percebo, no entanto, como é possível afirmar que esse monarca tenha feito um "investimento na cultura" sem paralelo em Portugal quando a Inquisição – cuja acção se revelaria 'cheia' de perseguições, repressões e censuras – foi criada pelo Papa (Paulo III), sim, mas sob pressão do próprio D. João

O monólogo e o naufrágio

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Aquela que acho ser uma das melhores interpretações em todos os filmes que tive a sorte de assistir já – que, confesso, não foram muitos… – foi o monólogo que a personagem "Quint" (interpretada pelo actor britânico Robert Shaw) fez no filme "Jaws" – ou "O Tubarão", no título português – sobre o naufrágio do navio militar norte-americano "USS Indianapolis". No entanto, se o argumento do filme "O Tubarão" – ‘lançado’ em 20 de Junho de 1975 e realizado por Steven Spielberg – se baseou na obra "Jaws" escrita por Peter Benchley, esse ‘discurso‘ nasceu do génio do argumentista vencedor dos prémios "Tony" e "Pulitzer" Howard Sackler e teve por base um acontecimento verídico: o afundamento do navio "USS Indianapolis" em Julho de 1945, no ‘fim’ da Segunda Guerra Mundial no Pacífico (isto é, lutada na Ásia). Efectivamente, foi em Julho de 1945 que o navio "USS Indianapolis", carregado de

A estagnação e a VOC

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Creio que foi antes da tomada de posse como ministro do XXIII governo de Portugal que o Professor António Costa Silva afirmou numa entrevista a uma/um jornalista do (jornal) "Negócios" o seguinte: "Sabemos que o PIB mundial esteve estagnado, da Idade Média * até à entrada do século XX". No entanto, sem pretender, evidentemente, refutar o conteúdo de tal intervenção, quero apenas lembrar que, de acordo com um estudo que tive a oportunidade de consultar há já alguns anos – publicado pela revista holandesa Duth Review em Dezembro de 2017 com o título "The Dutch East India Company was richer than Apple, Google and Facebook combined" –, se explicou que a Companhia Holandesa das Índias Orientais (a "Vereenigde Oostindische Compagnie") foi a empresa mais 'valiosa' em toda a História do mundo: cerca de 7.9 triliões de dólares (segundo as taxas de câmbio de 2017 e segundo um sistema numérico diferente do usado em Portugal). E que foi ta

O "Janus" humano

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Recordo algumas palavras que o cientista canadiano Hubert Reeves escreveu no seu "Malicorne – Reflexões de um observador da natureza" (editado em língua portuguesa na década de 1990 pela editora Gradiva) e que talvez tenham sido inspiradas pela leitura de "A Divina Comédia": "No pequeno Homo Sapiens tudo é demasiado. Nele, intimamente misturados, estão o sublime e o horrível. Há nele, em potência, Wolfgang Amadeus Mozart e Adolf Hitler". Ora, ambas as figuras nasceram na Áustria: o primeiro em Janeiro de 1756 e o segundo em Abril de 1889. Com efeito, o adjectivo com que Reeves descreveu Mozart – "sublime" – parece ser, de facto, apropriado, já que a Música, a sua ‘matéria’ de trabalho, seria, na definição do vindouro Napoleão Bonaparte, "a voz que nos diz que a espécie humana é melhor do que aquilo que julga". Já o adjectivo utilizado para caracterizar Adolf Hitler – "horrível" – também me parece ter sido bem escolhido: com