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A mostrar mensagens de julho, 2023

O livro, a personagem e o arcebispo

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Um dos títulos que o professor, filósofo, historiador e autor italiano Umberto Eco escreveu foi "Il nome della rosa". Ou, em língua portuguesa, "O nome da rosa". Ficção originalmente publicada em 1980 pela editora "Bompiani", o enredo de "Il nome della rosa" decorria em 1327 numa abadia localizada em Itália controlada pela ordem beneditina. No entanto, dado o sucesso comercial por ele alcançado, poucos terão ficado admirados por tal livro ser adaptado para o cinema alguns anos depois: foi em 1986 que o realizador francês Jean-Jacques Annaud ‘lançou’ um filme com o mesmo título. Assim, uma das personagens deste filme foi – e é – "Remigio de Varagine" (interpretada pelo actor Helmut Qualtinger). Ora, claro que não sei quais foram as ‘fontes’ documentais em que Eco se baseou para construir a ficção de "Il nome della rosa" mas a verdade é que o arcebispo de Génova (cidade do Norte de Itália) entre 1292 e 1298 (ano em que fale

A VOC e a "Peregrinação"

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Volto à "Vereenigde Oostindische Compagnie" – VOC –, a Companhia Holandesa das Índias Orientais. Constituída em 1602 (e dissolvida em 1798) e agrupando mercadores de várias cidades da Holanda, a VOC tinha como principal objectivo adquirir, e consolidar, um lugar no comércio com o Oriente suplantando os seus inimigos ingleses (com a sua "East India Company") e portugueses (com a sua "Carreira da Índia"). Ora, sobrepor-se aos demais concorrentes significava para a VOC ter de participar em operações militares: eis a razão de, no seu seio, se ter formado um grupo constituído por mercenários suíços. Grupo que, de resto, tinha como lema "Terra et Mare" e "Fidelitas et Honor" (ou, em português, "Na Terra e No Mar" e "Fidelidade e Honra"). Ou seja, superioridade militar. Mas não só. De facto, a muitos funcionários da Companhia Holandesa das Índias Orientais era solicitada a leitura da "Peregrinação" a

Vasco da Gama, Fernão de Magalhães e Stefan Zweig

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Partiu de Lisboa – mais concretamente do "Restelo" – em 8 de Julho de 1497 a frota comandada pelo navegador Vasco da Gama com o objectivo de descobrir o caminho marítimo para a Índia passando pelo Cabo da Boa Esperança. Conseguiu-o uma vez que chegou a Calecute, importante cidade e entreposto comercial na costa ocidental da Índia em 17 – ou no dia 18 – de Maio de 1498. Demonstrou, assim, existir uma ligação marítima directa entre a Europa e a Ásia. Ora, tal aventura marítima foi o primeiro "passo" para a implantação do "Império Português do Oriente". Que apenas cessaria formalmente quinhentos anos depois: em 20 de Dezembro de 1999 com a administração política de Macau a ser a oficialmente assumida pela República Popular da China. Aproveito, de facto, o estar a recordar Vasco da Gama e o seu feito para lembrar também que foi já há alguns anos que um navio designado "Vasco da Gama" (construído, por sinal, em instalações pertencentes ao estal

François Rabelais

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Também o lisboeta Teatro São Luiz estreia este mês a peça "O Livro de Pantagruel". Ora, desconheço completamente do que trata (por assim dizer) esta apresentação. O que sei, no entanto, é que um dos livros que foi publicado em 2022 foi "Tout Rabelais" (como não quero imiscuir-me no trabalho de outros, limito-me a enunciar o título original). Com efeito, "Tout Rabelais" mais não é do que uma espécie de viagem literária, através de uma escrita romanceada, pela vida humanista e livre do autor de "Gargantua et Pantagruel". Refiro-me, de facto, a François Rabelais. Efectivamente, Rabelais – que nasceu em França em 1494 e aí morreu em 1553 – foi, como atrás lembrei, um humanista: tendo chegado a corresponder-se com Erasmo de Roterdão, exerceu medicina, foi padre, editou obras de cariz científico e escreveu poesia e ficção. Precisamente, através das palavras, criticou a sociedade do "seu tempo" – denunciando a hipocrisia que,

A comédia, o auto e a floresta

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O Teatro Romano do Museu de Lisboa leva este mês à cena o texto escrito pelo autor romano Plauto (que viveu entre os anos 254 antes da data geralmente atribuída ao nascimento de Jesus Cristo e 184 antes da mesma data)* "A Comédia dos Burros". Que foi uma crítica a alguns valores existentes na sociedade de então. Ora, centenas de anos depois, foi Gil Vicente – por muitos considerado como o "pai" do teatro em Portugal – a censurar a sociedade do país: desde logo com o "Auto da Índia" e depois com a "Floresta de Enganos". Com efeito, o "Auto da Índia", tendo sido uma das primeiras farsas de Gil Vicente foi, justamente, também uma das primeiras obras representadas em toda a Península Ibérica a apresentar um enredo composto por diversas personagens ao contrário de um simples monólogo como era, de resto, habitual apresentar-se em contexto real. O "Auto da Índia" teve a sua primeira representação no início do século XVI (em 1509