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A mostrar mensagens de junho, 2023

O rei D. João III e a Cultura

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No volume III da "História de Portugal" coordenada por José Mattoso escreveu o historiador e docente universitário António Rosa Mendes o seguinte: "É inquestionável que sob D. João III ganhou vulto um fenómeno de "investimento na cultura" que, tanto quantitativa quanto qualitativamente, não teve precedentes na nossa história. A modernização do aparelho cultural respondia, aliás, e a um tempo, a solicitações que se prendiam com a necessidade de acertar o passo pelo da Europa evoluída e com as exigências do processo de concentração, racionalização e secularização do Poder - portanto, da própria construção do Estado moderno". Ora, confesso que não percebo, no entanto, como é possível afirmar que esse monarca tenha feito um "investimento na cultura" sem paralelo em Portugal quando a Inquisição – cuja acção se revelaria 'cheia' de perseguições, repressões e censuras – foi criada pelo Papa (Paulo III), sim, mas sob pressão do próprio D. João

O monólogo e o naufrágio

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Aquela que acho ser uma das melhores interpretações em todos os filmes que tive a sorte de assistir já – que, confesso, não foram muitos… – foi o monólogo que a personagem "Quint" (interpretada pelo actor britânico Robert Shaw) fez no filme "Jaws" – ou "O Tubarão", no título português – sobre o naufrágio do navio militar norte-americano "USS Indianapolis". No entanto, se o argumento do filme "O Tubarão" – ‘lançado’ em 20 de Junho de 1975 e realizado por Steven Spielberg – se baseou na obra "Jaws" escrita por Peter Benchley, esse ‘discurso‘ nasceu do génio do argumentista vencedor dos prémios "Tony" e "Pulitzer" Howard Sackler e teve por base um acontecimento verídico: o afundamento do navio "USS Indianapolis" em Julho de 1945, no ‘fim’ da Segunda Guerra Mundial no Pacífico (isto é, lutada na Ásia). Efectivamente, foi em Julho de 1945 que o navio "USS Indianapolis", carregado de

A estagnação e a VOC

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Creio que foi antes da tomada de posse como ministro do XXIII governo de Portugal que o Professor António Costa Silva afirmou numa entrevista a uma/um jornalista do (jornal) "Negócios" o seguinte: "Sabemos que o PIB mundial esteve estagnado, da Idade Média * até à entrada do século XX". No entanto, sem pretender, evidentemente, refutar o conteúdo de tal intervenção, quero apenas lembrar que, de acordo com um estudo que tive a oportunidade de consultar há já alguns anos – publicado pela revista holandesa Duth Review em Dezembro de 2017 com o título "The Dutch East India Company was richer than Apple, Google and Facebook combined" –, se explicou que a Companhia Holandesa das Índias Orientais (a "Vereenigde Oostindische Compagnie") foi a empresa mais 'valiosa' em toda a História do mundo: cerca de 7.9 triliões de dólares (segundo as taxas de câmbio de 2017 e segundo um sistema numérico diferente do usado em Portugal). E que foi ta

O "Janus" humano

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Recordo algumas palavras que o cientista canadiano Hubert Reeves escreveu no seu "Malicorne – Reflexões de um observador da natureza" (editado em língua portuguesa na década de 1990 pela editora Gradiva) e que talvez tenham sido inspiradas pela leitura de "A Divina Comédia": "No pequeno Homo Sapiens tudo é demasiado. Nele, intimamente misturados, estão o sublime e o horrível. Há nele, em potência, Wolfgang Amadeus Mozart e Adolf Hitler". Ora, ambas as figuras nasceram na Áustria: o primeiro em Janeiro de 1756 e o segundo em Abril de 1889. Com efeito, o adjectivo com que Reeves descreveu Mozart – "sublime" – parece ser, de facto, apropriado, já que a Música, a sua ‘matéria’ de trabalho, seria, na definição do vindouro Napoleão Bonaparte, "a voz que nos diz que a espécie humana é melhor do que aquilo que julga". Já o adjectivo utilizado para caracterizar Adolf Hitler – "horrível" – também me parece ter sido bem escolhido: com

O enclave e o topónimo

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O livro que Jamie Freeman escreveu e que foi publicado em Novembro de 2020 - "From German Königsberg to Soviet Kaliningrad: Appropriating Place and Constructing Identity" – aborda, naturalmente, o passado do território: localiza-se entre a Polónia e a Lituânia o território apropriado, no século XIII, pelos "Cavaleiros Teutónicos" e que esteve, durante séculos, sob alçada das autoridades germânicas com a designação "Königsberg" mas é hoje - e desde a "Conferência de Potsdam" que se realizou no fim da Segunda Guerra Mundial – o enclave * da Federação Russa com a designação "Kaliningrado" (homenagem ao nome de um dos comandantes da chamada "Revolução Bolchevique" ocorrida em 1917: "Mikhail Kalinin", precisamente). Ora, do que este livro não trata é da mudança motivada pelos ‘actores’ políticos. Que poderia tornar-se uma realidade: com efeito, foi já em Maio de 2023 que as autoridades da Polónia decidiram que, na Poló

Japão: delicadeza e guerra?

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Eis uma das sinopses do livro "O Crisântemo e a Espada" que encontrei na "Internet": "Em plena II Grande Guerra, Junho de 1944, o governo americano olhava perplexo para o seu inimigo japonês. Como acelerar a vitória? Como lidar e ocupar o Japão após a vitória militar? Governo e militares pediram à antropóloga Ruth Benedict que estudasse esse povo tão diferente e traçasse um retrato das normas e dos valores culturais japoneses". Ora, o conceito "oubaitori" – ou, "nunca te compares com outros" – será, talvez, um dos ‘traços’ culturais que nele encontrarei. Tal como, de resto, muitos outros. Acredito, no entanto, que um dos aspectos mais interessantes que a leitura deste "clássico" me proporcionará será permitir-me efectuar uma espécie de comparação da dimensão cultural do Japão de então – que, ainda que motivada politicamente, espero não muito distorcida da realidade… – com a percepção que tenho actualmente do "I

Rembrandt e "A Senhora"

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Foi há cerca de quatrocentos e dezassete anos que nasceu um indivíduo que seria, depois, aclamado como um dos ‘maiores’ pintores oriundos dos Países Baixos do chamado "período barroco"*: Rembrandt. Mas, claro que foi há muito menos tempo que eu entrei em contacto com a obra de Rembrandt. O primeiro desses contactos ter-se-á dado aquando do meu percurso escolar: na frequência da disciplina de História, talvez. Recordo, no entanto, um outro momento: foi na disciplina de Português que tive que comprar o livro "A Senhora" (escrito pela autora francesa Catherine Clément e publicado em Portugal na década de 1990). Ora, a capa da edição que comprei desse livro havia sido ilustrada com um pormenor do quadro "A noiva judia". Pintado por Rembrandt, precisamente. Aproveito, de resto, para referir que este livro foi dedicado pela autora – como ela própria escreveu, aliás – "À memória de Alain Oulman [compositor nascido em 1928] que, num dia de 1981, me pedi