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A mostrar mensagens de setembro, 2023

Retaliação à Cultura

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O livro "Russia’s War Against Ukraine: The Whole Story" que o historiador alemão Mark Edele escreveu e que a "Melbourne University Press" publicou no passado mês de Agosto (de 2023) aborda a "operação militar especial" encetada pela Rússia na Ucrânia em 24 de Fevereiro de 2022. Suponho, de facto, que sejam muitas as considerações de carácter militar e geopolítico aí ‘tecidas’. Mas talvez não de carácter cultural. Aproveitando, assim, para lembrar um excerto de uma entrevista que o filósofo português Eduardo Lourenço concedeu à estação pública portuguesa de rádio e de televisão, a RTP, e que esta transmitiu em 2016 – "A outra nação que não conta para nada nesta Europa chama-se Rússia. A ‘nova Rússia’. Enquanto a ‘nova Rússia’ não for incorporada no jogo capital da Europa, dos países, nós [continente europeu] não vamos para lado nenhum. (…) A Rússia é um país de grande cultura e, sobretudo, é um país que ainda tem uma alma profunda. Aquela na

Mais e menos europeu

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Desde meados do ano de 2018 que todos os edifícios públicos no estado da Baviera, na Alemanha, passaram obrigatoriamente a ostentar junto à respectiva porta de entrada (e de saída, claro) um crucifixo. Ou seja, um símbolo cristão. Ora, não demorei muito a lembrar-me da legenda atribuída ao beato San Andrés de Arroyo (do século XIII) – não confundir com o músico nascido na cidade espanhola de Oiartzun no século XIX José Francisco Arroyo – que tinha lido, alguns anos antes, na exposição "O Gabinete das Maravilhas – Atlas e Códices dos Melhores Arquivos e Bibliotecas do Mundo" patente nas instalações do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa: "é o mais europeu de todos os beatos". O que é que se pretenderia transmitir exactamente com estas palavras escritas já no século XXI? Nunca consegui, no entanto, dar uma resposta à minha própria pergunta: o que significaria, desde logo, ser-se "mais europeu" (e "menos europeu", evidentemente

O passado da tortura

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Quando, no fim da década de 1990, acabei de ver a exposição "Instrumentos Europeus de Tortura e Pena Capital – Desde a Idade Média até ao Século XIX" que o Palácio Galveias, em Lisboa, acolheu, confesso que a ‘impressão’ com que me lembro de ter ficado foi a de que tinha acabado de ver ‘algo’ exótico. "Exótico" porque não conseguia conceber que o espírito humano pudesse ser capaz de inventar instrumentos para, física e psicologicamente, torturar e destruir o Outro. Mas, também nesse ‘capítulo’, foi o Tempo que me permitiu ir progressivamente abandonando esse "exotismo" e essa incredulidade. Efectivamente, só muito depois soube que havia já sido em 1978 que um escritor que havia sobrevivido ao campo de concentração e extermínio de Auschwitz se suicidara depois de escrever um livro: o escritor (e ensaísta) austríaco "Jean Améry" – ou "Hans Meyer", seu verdadeiro nome –, incapaz de continuar a suportar a violência que, anos antes, os &q

As alterações climáticas e a "Casa para a Cura da Alma"

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A Dra. Margaret Chan, a directora-geral da Organização Mundial da Saúde (ou, na sigla em língua portuguesa, OMS) entre Novembro de 2006 e Junho de 2017, disse, um dia, o seguinte: "Cada século coloca à Saúde Pública os seus próprios desafios. O do século XXI é a mudança climática". Efectivamente, eis o título – devidamente traduzido, pois – de uma notícia publicada na "Internet" pelo jornal norte-americano "The New York Times" em Abril de 2021: "A mudança climática poderá custar à economia global 23 triliões de dólares norte-americanos em 2050, avisa seguradora". Com efeito, como o Prof. Filipe Duarte Santos escrevera já no seu artigo "Alterações climáticas: situação actual e cenários futuros" (publicado em 2004), "as alterações climáticas induzidas pelo homem são já inevitáveis durante vários séculos. Será apenas possível controlar a sua intensidade por meio da diminuição do valor global das emissões. Face a esta realidade, há

Máscaras

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Um dos títulos do "cardápio" livresco da editora Livros do Brasil é "Confissões de Uma Máscara" (do autor japonês Yukio Mishima). Ora, devo começar por admitir que nunca li este livro. Mas admito também que me lembro perfeitamente do facto de um militante de um partido político português ter, certa vez, considerado Portugal um "país de máscaras"*. No entanto, muito antes desta declaração já dois escritores haviam feito referência a esta opacidade: com efeito, o escritor checo Franz Kafka (que viveu entre 1883 e 1924) declarou o seguinte: "senti vergonha de mim mesmo quando percebi que a vida era um baile de máscaras e eu compareci com a minha verdadeira cara" enquanto que o autor italiano Luigi Pirandello (que viveu entre 1867 e 1936 e chegou a ser distinguido com o Prémio Nobel da Literatura em 1934) afirmou o seguinte: "encontrarás ao longo da vida - e não sem sofrimento - muitas máscaras e poucos rostos reais". E não se esta

O castigo da vida

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Escreveu o ‘grande’ escritor russo Fiódor Dostoiévski no seu “Crime e Castigo” (título traduzido para a língua portuguesa) – originalmente publicado em 1866 – que "A dor e o sofrimento são sempre inevitáveis para uma grande inteligência e um coração profundo. Os seres verdadeiramente grandes nada mais terão a esperar na sua passagem pela Terra do que uma enorme tristeza, penso eu". Ora, talvez as palavras – bem como o seu significado, pois – de Dostoiévski não sejam, total ou parcialmente, desprovidas de ‘sentido'. Por exemplo, talvez não sejam poucos a saber que, na História de Portugal, nem só uma pessoa – D. Nuno Álvares Pereira – ocupou o cargo de "Condestável". Foram vários, de facto, aqueles que ostentaram esse título sendo que o primeiro foi D. Álvaro Pires de Castro, durante o reinado do rei D. Fernando. Na verdade, ser-se "Condestável de Portugal" significava que se era chefe do exército português e, portanto, uma das mais importante

O pátio e a cidade

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Uma das peças de teatro que o 39.° Festival de Almada levou à cena nos dias 16 e 17 de Julho de 2022 no Teatro Nacional D. Maria II foi "I Was Sitting on My Patio This Guy Appeared I Thought I Was Hallucinating". Ora, esta peça foi originalmente apresentada nos Estados Unidos da América – na "Eastern Michigan University" – pelos actores e encenadores Lucinda Childs e Robert Wilson em 1977. Admito, assim, como francamente plausível que se confunda "este" Robert Wilson com "outro" Robert Wilson: o escritor britânico 'especializado' em temáticas relacionadas com o crime e a espionagem que escreveu, por exemplo, "A Small Death in Lisbon" (primeiramente publicado em 2002).